O brincar é o trabalho da criança! Mas, será mesmo?
Vivemos reproduzindo frases, pensamentos e ideologias sem mesmo refletirmos se ela está realmente correta.
Alguns podem dizer: - “mas, é legal”. Outros: - “mas, eu gostei”. Seus amigos: - “essa frase ficou tão linda na foto”.
Todos nós precisamos refletir sobre o que postamos, compartilhamos, curtimos, pois isso significa que corroboramos com aquela ideia ou ideal.
Um exemplo que queremos evitar é a adultização da Infância, que basicamente é o processo de querer acelerar o desenvolvimento das crianças para que se tornem logo adultas. É importante situar aqui que essa adultização provoca perda da infância, da socialização, da coletividade e do mais importante, a fase do brincar livremente.
Segundo o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei Federal n° 8069/1990, deixa claro a proibição do trabalho para menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz e aponta o direito à liberdade, incluindo o brincar, a prática de esportes e a diversão.
Ou seja, quando falamos em trabalho (ação de adulto) relacionado ao brincar (ação de criança) estamos automaticamente, mesmo que sem intenção, adultizando a criança, colocando ela em um patamar de adulto e não de criança.
Bom, será mesmo que o brincar
é o trabalho da criança?
Basicamente vou discorrer sobre duas palavras: “trabalho” e “brincar” para uma breve reflexão.
O conceito de trabalho é geralmente entendido como uma atividade humana realizada com o objetivo de produzir uma forma de obtenção de subsistência. A maioria dos trabalhos são remunerados (exceto o trabalho voluntário) e essa remuneração na maioria das vezes é em dinheiro (exceto em alguns lugares ou por meio de acordo entre as partes).
Já sobre o brincar, o melhor sinônimo para a palavra brincar é divertir-se. É uma das principais atividades que ajudam no desenvolvimento da criança. A liberdade para brincar serve de elo entre diversas atividades a serem aprendidas e desenvolvidas. Ajuda na formação da identidade, na capacidade de autonomia, na memória e principalmente na evolução da imaginação, que é um dos elementos fundamentais para a aprendizagem das relações pessoais. É durante uma brincadeira e por meio delas, que as crianças aprendem novos conceitos e se preparam para o mundo. A característica principal de poder brincar é a liberdade dada ao indivíduo (FONTE).
Agora, para te ajudar na reflexão – o brincar é o trabalho na criança – vou abordar alguns pontos que divergem essa afirmação.
1. O trabalho é uma atividade humana, já o brincar não. Não só humanos brincam, mas animais também. Jogue uma bola para seu cachorro de estimação e veja se ele não brincará contigo.
2. O principal objetivo do trabalho é gerar renda para o sustento do indivíduo, sendo isso, fundamental para obtenção de um conjunto de coisas essências à manutenção da vida, já o brincar tem como objetivo principal o divertimento, ao aliar à uma visão pedagógica, o objetivo primário está ligado a aprendizagem.
3. No trabalho há várias regras que não podem ser alteradas, já no brincar não há regras, mas se houverem, elas podem ser facilmente alteradas.
4. No trabalho há um cumprimento mínimo e máximo de horas de trabalho, já na brincadeira o período de atividade será enquanto o participante desejar, sem obrigação de comprimento de horas.
5. No trabalho há hora para iniciar, pausar e hora para terminar, na brincadeira não.
6. No trabalho você tem que bater metas, cumprir ordem do seu chefe, supervisor, coordenador, etc, já na brincadeira a criatividade e objetivos são apenas do brincante. Salvo se eles estiverem em uma recreação dirigida.
Esses são alguns pontos que podemos contrapor o TRABALHO e o BRINCAR, e assim, identificar que – o brincar é o trabalho da criança – fica linda em uma frase, mas na prática ela não faz sentido nenhum.
Ok, Cleber... o que eu aprendo com isso tudo?
Que sempre temos que analisar o que está sendo postado, escrito e pregado sobre nossa área de formação e estudo. Já estamos cheios de pessoas – CTRL+C e CTRL+V – que "copiam e colam" informações como se as mesmas fossem verdades.
Sabe porque eu escrevi esse texto?
Porquê quero te ajudar! Confesso aqui que eu mesmo já utilizei essa frase em algum momento da minha vida, porém, ao refletir sobre minha práxis, verifiquei que ela não condiz com a realidade. Por fim, aprenda a pensar criticamente nos conceitos e ações práticas que envolvem sua profissão, a final de contas, quem crescerá com isso é você!
REFERÊNCIAS
Se você tiver dúvidas ou contribuições, por favor, insira nos comentários. Ela poderá ajudar tantas outras pessoas!
O Professor Mestre em Ensino Cleber Junior é Mentor de Recreadores com mais de 1 milhão de visualizações em seus vídeos no Youtube. Criador da 1ª formação online para o Recreador de Sucesso no Brasil e do curso online o Recreador do Futuro. Prêmio Melhor Produção de Conteúdo e Influência Digital.